Nas últimas décadas, tem se observado grandes avanços na medicina, relacionados ao aprimoramento do conhecimento científico a respeito da fisiologia, bioquímica e genética, potencializados principalmente pelas novas tecnologias, que permitiram avanços como os cuidados intensivos médicos que permitem a sobrevivência dos bebês que nascem antes do tempo ideal de gestação, os prematuros. Apesar da evolução nos cuidados e na tecnologia disponível no nosso meio, que garantiram a maior sobrevida dos bebês nascidos prematuramente, os riscos de sequelas neurológicas nestas condições permanecem elevados.
A gestação normal completa-se em média com 40 semanas, embora seja considerado a termo (normal) todo nascimento entre 37 e 40 semanas. As crianças que nascem antes de completar estas 37 semanas são consideradas prematuras. O grupo mais sensível é aquele que apresenta nascimento abaixo de 30 semanas, onde é proporcionalmente maior a chance de complicações e de mortalidade.
Existem muitos motivos que fazem um bebê nascer antes do tempo. Em algumas situações, o parto pode ser antecipado em casos de má-formação fetal ou risco de infecções. Doenças como hipertensão gestacional, diabete ou infecções, em especial a infecção urinária, aumentam a chance de parto prematuro, assim como os casos de dificuldade de nutrição fetal devido a alguma alteração placentária. Gestação múltipla é outro fator, e quanto maior o número de gêmeos, maior as chances de parto prematuro. Embora exista o esforço para evitar os nascimentos prematuros, há vários motivos que aumentam estes riscos atualmente, entre eles os “extremos de idade de gestação das mulheres”, como a gravidez na adolescência e após os 40 anos. O corpo de uma adolescente ainda não está bem preparado para uma gestação e, às vezes, não consegue levar a gestação até o fim. Também é cada vez mais comum as mulheres que optam por adiar a maternidade para se dedicar primeiro, à carreira. A fertilização in vitro é outra causa que atualmente associa-se à gemelaridade.
Atualmente, cerca de 6% das gestações no Brasil terminam antes do tempo. (Fonte: www.prematuridade.com)
Nascer prematuramente expõe o sistema nervoso do bebê que ainda está em formação, pois ocorre dificuldade de oxigenação do tecido nervoso; também a suscetibilidade a hemorragia cerebral, infecções e as múltiplas complicações dos prematuros interferem na maneira como o cérebro conclui seu desenvolvimento. Isto explica a grande incidência de sequelas como a Paralisia Cerebral e Transtornos do Neurodesenvolvimento associados à prematuridade, como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA ou Autismo).
Por este e outros motivos, foi instituído no dia 17 de novembro a data dedicada ao Dia Mundial da Prematuridade, com os objetivos de alertar para a necessidade de prevenção do parto prematuro, e nos casos em que não pode ser evitado, chamar a atenção para os cuidados necessários a estes bebês. A presença não só da mãe, mas também do pai é fundamental para a recuperação dos bebês prematuros. A necessidade de aparelhos que pressionam ou apertam, os exames por punção frequentes ou outros procedimentos dolorosos devem ser evitados ao máximo. Sentir o toque da mãe é essencial para o bem-estar emocional do bebê.
Um modelo de assistência ao recém-nascido prematuro e sua família, internado na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal é o Método Canguru, voltado para o cuidado humanizado que reúne estratégias de intervenção biopsicossocial. Nele o bebê prematuro é colocado em contato pele a pele com sua mãe ou com seu pai, sentindo o calor, a respiração, o cheiro com a ajuda de um tecido que envolve o corpo da mãe ou do pai, e com isto procura-se a manutenção ou reforço dos vínculos emocionais e afetivos, essenciais para a regulação do desenvolvimento cerebral.
Entre os cuidados, também está o acompanhamento neurológico já no ambiente da unidade de terapia intensiva neonatal (que continua após a alta do hospital). Estes cuidados passam pela avaliação de complicações neurológicas, complementados por exames como Ultrassonografia Transfontanelar e Ressonância Magnética de Crânio; e principalmente pelo acompanhamento do Desenvolvimento Neuropsicomotor pelo Neurologista Pediátrico, que muitas vezes se estende pelos primeiros anos de vida da criança. Neste acompanhamento, deve-se avaliar com cuidado e realizar uma correção para idade gestacional do prematuro, pois o que parece atraso pode ser devido a diferença da fase de desenvolvimento em que se encontrava ao nascer antes do tempo. Por exemplo, um bebê de 8 meses que nasceu três meses antes do esperado, se comporta mais ou menos como um bebê de 5 meses. Por volta dos dois anos, o desenvolvimento do prematuro sem complicações neurológicas se equivale aos das crianças que não nasceram antes do tempo, mas no caso de realmente apresentar atraso do desenvolvimento, poderá ser necessária intervenção precoce, para auxiliar a plasticidade cerebral no processo de recuperação. Dr. Fábio Agertt é Neuropediatra na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neuropediatria.