Sinais do autismo na infância, como diagnosticar, causas e tratamento

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento infantil, que vem sendo diagnosticado cada vez com mais frequência. O impacto do TEA na vida das pessoas e de seus familiares podem ser minimizados quando um diagnóstico e intervenções precoces são instituídos.

Sinais comuns do autismo na infância

Geralmente é perceptível nas pessoas que apresentam esse transtorno:

  • Tendência a isolar-se;
  • Parecer não escutar;
  • Não compartilhar interesses próprios ou dos outros;
  • Atraso na aquisição e desenvolvimento da fala;
  • Apego excessivo a objetos que não são brinquedos, como talheres e tampas de garrafas;
  • Sensibilidade excessiva a sons (aspirador de pó, música, falatórios);
  • Restrições alimentares; e
  • Dificuldades em receber ou dar carinhos e abraços.

Temperamento explosivo, com mudanças bruscas de humor e intensa irritabilidade também podem ser observados, e frequentemente são desencadeados por dificuldades em flexibilizar e compreender mudanças de rotinas. Por outro lado, algumas crianças com TEA são dóceis e tranquilas.

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Algumas pessoas com TEA podem apresentar habilidades específicas em alguma área de conhecimento, como matemática ou música. Crianças desde muito pequenas podem desenvolver enorme interesse por um assunto pouco usual e adquirir um grande conhecimento sobre este tema (como pirâmides do Egito, aviões, lista ou uma sequência de números ou nomes), ou mesmo uma fala com vocabulário rebuscado e pouco comum para a idade. Neste caso, são caracterizados como tendo um padrão peculiar de TEA, conhecido como Síndrome de Asperger.

Como é feito o diagnóstico de autismo?

Da mesma maneira como em outros transtornos comportamentais, não existem exames laboratoriais ou de imagem para auxiliar no diagnóstico, mas, sim, a necessidade de preencher critérios clínicos estabelecidos internacionalmente.

Algumas características clássicas do autismo, como interesse em rodar, empilhar ou enfileirar objetos, balanceio de corpo, movimentos de dedos e mãos próximo ao rosto ou dificuldade em fixar o olhar em outra pessoa, podem não estar presentes.

O importante para entender como se faz o diagnóstico não será perceber se essas características comportamentais diferentes estão ou não presentes, mas sim com que frequência, intensidade e qual o nível de prejuízo que está causando nas atividades da vida diária, nas relações familiares, na vida social e escolar.

Critérios diagnósticos do autismo

(Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria):

1. Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, manifestados de todas as maneiras seguintes:

  • Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal, usadas para interação social;
  • Falta de reciprocidade social; e
  • Incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade apropriados para o estágio de desenvolvimento.

2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo:

  • Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou comportamentos sensoriais incomuns;
  • Excessivo apego a rotinas e padrões ritualizados de comportamento; e
  • Interesses restritos, fixos e intensos.

3. Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades.

M-CHAT, um dos instrumentos para identificação do autismo

O M-CHAT (Escala para rastreamento de autismo modificada), desenvolvida por Robins DL, Fein D, Barton ML, Green JA, em 2001, é largamente utilizada como um instrumento de rastreamento, ou seja, quando há suspeita de TEA em crianças pequenas, até 2 anos de idade (18-24 meses).

Deverá ser respondido por pais ou cuidadores, e não definem o diagnóstico, mas sempre que apresentar mais do que três respostas não, ou pelo menos 2 respostas NÃO aos itens 2, 7, 9, 13, 14 e 15, a avaliação por especialista é indicada.

Como aplicar o M-CHAT

Basta preencher as questões abaixo, indicando como a criança geralmente se comporta. Caso o comportamento na questão seja raro, responda como se a criança não o fizesse.

1. Seu filho gosta de se balançar, pular no seu joelho, etc.? Sim Não
2. Seu filho tem interesse por outras crianças? Sim Não
3. Seu filho gosta de subir em coisas, como escadas ou móveis? Sim Não
4. Seu filho gosta de brincar de esconder e mostrar o rosto ou de esconde-esconde? Sim Não
5. Seu filho já brincou de faz-de-conta, como, por exemplo, fazer de conta que está falando no telefone? Sim Não
6. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar e pedir alguma coisa? Sim Não
7. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar, para indicar interesse em algo? Sim Não
8. Seu filho consegue brincar de forma correta com brinquedos pequenos (ex. carros ou blocos), sem apenas colocar na boca, remexer no brinquedo ou deixar o brinquedo cair? Sim Não
9. O seu filho alguma vez trouxe objetos para você, apenas para lhe mostrar? Sim Não
10. O seu filho olha para você no olho por mais de um segundo ou dois? Sim Não
11. O seu filho já pareceu muito sensível ao barulho (ex. tapando os ouvidos)? Sim Não
12. O seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao seu sorriso? Sim Não
13. O seu filho imita você? (Ex. você faz expressões/caretas e seu filho imita?) Sim Não
14. O seu filho responde quando você o chama pelo nome? Sim Não
15. Se você aponta para um brinquedo do outro lado do cômodo, o seu filho olha para ele? Sim Não
16. Seu filho já sabe andar? Sim Não
17. O seu filho olha para coisas que você está olhando? Sim Não
18. O seu filho faz movimentos estranhos com os dedos perto do rosto dele? Sim Não
19. O seu filho tenta atrair a sua atenção para a atividade dele? Sim Não
20. Você alguma vez já se perguntou se seu filho é surdo? Sim Não
21. O seu filho entende o que as pessoas dizem? Sim Não
22. O seu filho às vezes fica aéreo, “olhando para o nada” ou caminhando sem direção definida? Sim Não
23. O seu filho olha para o seu rosto para conferir a sua reação quando vê algo estranho? Sim Não

Causas do autismo

Não há nenhum fator específico e definitivo relacionado a causa do TEA. Sabe-se que está mais presente em crianças prematuras, filhos de mães fumantes ou alcoolistas e pais mais velhos. Implica-se ainda à possibilidade de uso de algumas drogas na gestação, poluição ou outros fatores ambientais. O certo é que se trata de uma condição herdada geneticamente.

Como é realizado o tratamento de autismo

Intervenções comportamentais são fundamentais para o tratamento do TEA, com psicoterapia comportamental e técnicas apropriadas e difundidas, como por exemplo:

  • Treinamento dos pais;
  • Terapias comportamentais como ABA (Análise comportamental aplicada), que trabalha déficit e excessos comportamentais;
  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC);
  • Estrutura de ensino que consiste na organização do ambiente e atividades (TEACCH Tratamento e Educação para Crianças Autistas e Crianças com Déficit relacionados com a Comunicação);
  • PECS (Picture Exchange communications system) ®, para crianças pouco verbais;
  • Fonoterapia;
  • Terapia ocupacional com técnicas neurossensoriais;
  • Treinamento e capacitação de escolas, educadores e professores.

Medicamentos são necessários para tratar o autismo?

O tratamento medicamentoso no TEA é empregado na maioria dos indivíduos com TEA ao longo da vida. O objetivo é controlar os sintomas associados, como agitação, ansiedade, alteração do padrão do sono, hiperatividade, impulsividade, agressividade, temperamento explosivo, manias e obsessões.

No tratamento, poderão ser utilizados medicamentos ansiolíticos, tranquilizantes, antipsicóticos e neurolépticos, indutores do sono ou psicoestimulantes.

No Brasil, a convenção da ONU para pessoas com necessidades especiais deu status de lei ao tratar do TEA. A Lei 12.764, de 27/12/2012, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes.

Dr. Julio Koneski é Neuropediatra na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neuropediatria.

Dr. Julio Koneski

Especialista em Neuropediatria na Neurológica em Joinville - SC

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