O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento infantil, que vem sendo diagnosticado cada vez com mais frequência. O impacto do TEA na vida das pessoas e de seus familiares podem ser minimizados quando um diagnóstico e intervenções precoces são instituídos.
Geralmente é perceptível nas pessoas que apresentam esse transtorno:
Temperamento explosivo, com mudanças bruscas de humor e intensa irritabilidade também podem ser observados, e frequentemente são desencadeados por dificuldades em flexibilizar e compreender mudanças de rotinas. Por outro lado, algumas crianças com TEA são dóceis e tranquilas.
Algumas pessoas com TEA podem apresentar habilidades específicas em alguma área de conhecimento, como matemática ou música. Crianças desde muito pequenas podem desenvolver enorme interesse por um assunto pouco usual e adquirir um grande conhecimento sobre este tema (como pirâmides do Egito, aviões, lista ou uma sequência de números ou nomes), ou mesmo uma fala com vocabulário rebuscado e pouco comum para a idade. Neste caso, são caracterizados como tendo um padrão peculiar de TEA, conhecido como Síndrome de Asperger.
Da mesma maneira como em outros transtornos comportamentais, não existem exames laboratoriais ou de imagem para auxiliar no diagnóstico, mas, sim, a necessidade de preencher critérios clínicos estabelecidos internacionalmente.
Algumas características clássicas do autismo, como interesse em rodar, empilhar ou enfileirar objetos, balanceio de corpo, movimentos de dedos e mãos próximo ao rosto ou dificuldade em fixar o olhar em outra pessoa, podem não estar presentes.
O importante para entender como se faz o diagnóstico não será perceber se essas características comportamentais diferentes estão ou não presentes, mas sim com que frequência, intensidade e qual o nível de prejuízo que está causando nas atividades da vida diária, nas relações familiares, na vida social e escolar.
(Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria):
1. Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, manifestados de todas as maneiras seguintes:
2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo:
3. Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades.
O M-CHAT (Escala para rastreamento de autismo modificada), desenvolvida por Robins DL, Fein D, Barton ML, Green JA, em 2001, é largamente utilizada como um instrumento de rastreamento, ou seja, quando há suspeita de TEA em crianças pequenas, até 2 anos de idade (18-24 meses).
Deverá ser respondido por pais ou cuidadores, e não definem o diagnóstico, mas sempre que apresentar mais do que três respostas não, ou pelo menos 2 respostas NÃO aos itens 2, 7, 9, 13, 14 e 15, a avaliação por especialista é indicada.
Basta preencher as questões abaixo, indicando como a criança geralmente se comporta. Caso o comportamento na questão seja raro, responda como se a criança não o fizesse.
1. Seu filho gosta de se balançar, pular no seu joelho, etc.? | Sim | Não |
2. Seu filho tem interesse por outras crianças? | Sim | Não |
3. Seu filho gosta de subir em coisas, como escadas ou móveis? | Sim | Não |
4. Seu filho gosta de brincar de esconder e mostrar o rosto ou de esconde-esconde? | Sim | Não |
5. Seu filho já brincou de faz-de-conta, como, por exemplo, fazer de conta que está falando no telefone? | Sim | Não |
6. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar e pedir alguma coisa? | Sim | Não |
7. Seu filho já usou o dedo indicador dele para apontar, para indicar interesse em algo? | Sim | Não |
8. Seu filho consegue brincar de forma correta com brinquedos pequenos (ex. carros ou blocos), sem apenas colocar na boca, remexer no brinquedo ou deixar o brinquedo cair? | Sim | Não |
9. O seu filho alguma vez trouxe objetos para você, apenas para lhe mostrar? | Sim | Não |
10. O seu filho olha para você no olho por mais de um segundo ou dois? | Sim | Não |
11. O seu filho já pareceu muito sensível ao barulho (ex. tapando os ouvidos)? | Sim | Não |
12. O seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao seu sorriso? | Sim | Não |
13. O seu filho imita você? (Ex. você faz expressões/caretas e seu filho imita?) | Sim | Não |
14. O seu filho responde quando você o chama pelo nome? | Sim | Não |
15. Se você aponta para um brinquedo do outro lado do cômodo, o seu filho olha para ele? | Sim | Não |
16. Seu filho já sabe andar? | Sim | Não |
17. O seu filho olha para coisas que você está olhando? | Sim | Não |
18. O seu filho faz movimentos estranhos com os dedos perto do rosto dele? | Sim | Não |
19. O seu filho tenta atrair a sua atenção para a atividade dele? | Sim | Não |
20. Você alguma vez já se perguntou se seu filho é surdo? | Sim | Não |
21. O seu filho entende o que as pessoas dizem? | Sim | Não |
22. O seu filho às vezes fica aéreo, “olhando para o nada” ou caminhando sem direção definida? | Sim | Não |
23. O seu filho olha para o seu rosto para conferir a sua reação quando vê algo estranho? | Sim | Não |
Não há nenhum fator específico e definitivo relacionado a causa do TEA. Sabe-se que está mais presente em crianças prematuras, filhos de mães fumantes ou alcoolistas e pais mais velhos. Implica-se ainda à possibilidade de uso de algumas drogas na gestação, poluição ou outros fatores ambientais. O certo é que se trata de uma condição herdada geneticamente.
Intervenções comportamentais são fundamentais para o tratamento do TEA, com psicoterapia comportamental e técnicas apropriadas e difundidas, como por exemplo:
O tratamento medicamentoso no TEA é empregado na maioria dos indivíduos com TEA ao longo da vida. O objetivo é controlar os sintomas associados, como agitação, ansiedade, alteração do padrão do sono, hiperatividade, impulsividade, agressividade, temperamento explosivo, manias e obsessões.
No tratamento, poderão ser utilizados medicamentos ansiolíticos, tranquilizantes, antipsicóticos e neurolépticos, indutores do sono ou psicoestimulantes.
No Brasil, a convenção da ONU para pessoas com necessidades especiais deu status de lei ao tratar do TEA. A Lei 12.764, de 27/12/2012, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes.
Dr. Julio Koneski é Neuropediatra na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neuropediatria.