O ano de 2020 foi atípico em vários sentidos. Grandes mudanças, sem um precedente baseado em experiências prévias e ocorrendo praticamente sem aviso, modificaram nossas rotinas, relacionamentos e todo um modo de vida.
O medo da nova doença veio de forma radical e com grande risco de variados prejuízos a curto e longo prazo. Em especial, as crianças que necessitam tantos cuidados e atenção para o desenvolvimento, foram privadas do ar livre, da luz do dia, da convivência com os avós e demais membros do núcleo familiar; não puderam ir a escola, ao parquinho, à praia, e principalmente, não puderam brincar umas com as outras.
Percebeu-se durante este período de isolamento social o aumento da ansiedade, o ganho de peso acima da média, o uso excessivo de telas, o atraso do desenvolvimento da fala mais frequentemente, o comportamento agitado e inquieto ou até mesmo sinais depressivos em muitas crianças, sem falar nas alterações do sono!
Nós Neuropediatras da neurológica acompanhamos, e provavelmente assim como todos vocês acompanharam, a incerteza destes dias, o arrastar-se da dificuldade de ensino à distância, a sobrecarga dos adultos que cuidam dos pequenos e que ainda precisam trabalhar, lidando com a imprevisibilidade da evolução da economia.
Aos poucos, a estabilidade avança, e lentamente retornamos – ou tentamos retornar – ao que chamamos de “normal”, ou com diríamos, “um normal com adaptações”. Crianças precisam de coisas simples, mas aparentemente difíceis de oferecer: acordar com ar da manhã, brincar ao ar livre, sentir o sol, brincar na chuva; sem depender de brinquedos tecnológicos, mas fazer de um graveto, de uma folha ou pedra, um mundo imaginário, que faz sorrir até o mais rabugento dos adultos; esquecido de que já desejou a mesma fantasia.
É hora, neste dia das crianças, de pensar em simplicidade, adaptar-se às dificuldades o quanto se pode; sair de máscara e levar o álcool em gel no bolso para higiene das mãos quando necessário, mas sem deixar de sujá-las na areia da praia, nas britas do caminho ou na lama que vira tinta da roupa. É hora de treinar tirar rodinhas da bicicleta (usando capacete). É hora de deixar aos poucos as quatro paredes, deixar acabar a bateria do tablet ou celular e não carregar mais. É hora de mais abraços de pais e filhos, de menos brigas, de inventar brinquedos, de cantar para dormir, de relembrar as histórias, de rir sem motivo. É hora de voltar a ser criança – brincar, rir e ter esperança, tudo com responsabilidade.