Estudo revela novos dados sobre a saúde de transgêneros e risco de AVC

Até hoje a medicina pouco dispõe de estudos de peso que analisam particularidades da saúde do indivíduo transgênero. Felizmente, conforme caem barreiras do preconceito e da ciência, começam a ser disponibilizados dados sobre a saúde desta população.

Para quem não está habituado à terminologia, segue uma orientação básica para a compreensão do texto:

  • Indivíduo cis: pessoa que se identifica com o gênero determinado no nascimento.
  • Indivíduo transgênero: sua identidade de gênero difere à de nascimento (por exemplo, uma pessoa que nasceu com sistema reprodutor masculino, mas reivindica feminilidade).

Redesignação sexual traz benefícios para qualidade de vida

A redesignação sexual (conhecida popularmente como “mudança de sexo”) trouxe benefícios como uma melhora de 80% da disforia de gênero (transtorno causado pela desconformidade entre o sexo biológico e a identidade de gênero) entre os tratados, com impacto similar na melhora da qualidade de vida, dos sintomas psicológicos e redução da taxa de suicídio (embora esta ainda se mantenha mais alta em comparação aos indivíduos cis).

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O que os estudos apontam sobre riscos de saúde para a população transgênera

Recentemente foi publicado o estudo Cross-sex Hormones and Acute Cardiovascular Events in Transgender Persons: A Cohort Study, na revista Annals of Internal Medicine. Este é o maior estudo americano avaliando indivíduos transgênero até o momento e nos trouxe alguns dados sobre a ocorrência de eventos vasculares nesta população. Até então estimava-se o risco vascular do uso de hormônios sexuais em mulheres transgênero baseado apenas nos estudos de mulheres na menopausa em reposição hormonal.

A ocorrência de trombose venosa em mulheres transgênero foi duas vezes maior quando comparado a homens e mulheres cis. Este risco também difere das mulheres pós-menopausa com reposição hormonal, quando nestas aumenta logo após o início do uso de estrogênio e é estabilizado após 5 anos. Enquanto nas transgênero aumenta somente após 2 anos de tratamento e segue aumentando mesmo após 5 anos de uso.

O risco de infarto do coração foi maior em mulheres transgênero em comparação a mulheres cis, mas semelhante ao de homens cis.

Mulheres transgênero em uso de estrogênio tiveram um aumento em 10 vezes no risco de AVC em comparação a homens cis e 4 vezes maior que do que mulheres cis. Em contraste, não foi observado maior risco de eventos em homens transgênero.

Conclusão

Estas informações de forma alguma anulam os benefícios do tratamento de redesignação sexual, mas reafirmam que devem ser coletados mais dados, afim de obtermos informações sobre quais modalidades de tratamento oferecem menos risco vascular aos pacientes.

Dra. Lara Pizzetti é Neurologista na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neurologia.

Dra. Lara Pizzetti Fernandes

Especialista em Toxina Botulínica na Neurológica em Joinville - SC

Disqus Comments Loading...
Compartilhar