Dietas funcionam para o tratamento do Autismo?

Assunto muito polêmico, até mesmo entre a comunidade médica, e ainda de difícil compreensão e decisão para os grandes interessados no assunto: os pais e cuidadores de autistas. Existem muitos trabalhos procurando mostrar os benefícios das dietas no autismo, mas bastante controversos. A última “metanálise” (grande revisão de artigos científicos) publicada na respeitada revista científica Pediatrics, concluiu que ainda não há evidências científicas suficientes para confirmar a eficácia de dietas ou de suplementos alimentares, ou seja, essas medidas não seriam capazes de melhorar o comportamento das crianças com autismo.

Entretanto, muitos profissionais incluindo médicos, nutricionistas e principalmente pais e cuidadores de crianças autistas buscam esta alternativa: em parte por não existir até o momento um tratamento específico além das terapias comportamentais especializadas e dos medicamentos para as doenças associadas (medicamentos para ansiedade, epilepsia, distúrbios do sono); e pelos relatos de melhora individual em casos em que foi realizada.

Quais dietas são usadas atualmente nos casos de autismo?

As dietas especiais mais frequentemente utilizadas são as de restrição de glúten e de caseína (proteína do leite), facilmente aplicáveis do ponto de vista de escolher os alimentos, porém não isentas de riscos nutricionais, uma vez que para os autistas em geral já existem dificuldades na aceitação alimentar; eles podem apresentar muitas vezes recusa a algumas sensações de textura, gosto, temperatura e mesmo aparência dos alimentos – que muitas crianças neurotípicas (não autistas) também apresentam, convenhamos.

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Se não há comprovação de que as dietas funcionam, por que ainda são utilizadas?

A hipótese de que estas dietas ajudam provavelmente partiu da observação de crianças autistas com doença celíaca ou outros distúrbios gastrointestinais, em que a dieta melhorava seus sintomas – melhorava a dor abdominal, a dificuldade em ganhar peso e diarreia, típicos sinais de uma possível doença celíaca, causada pela alergia ao glúten presente em alguns alimentos. Sabendo que estes sintomas atrapalham o humor e a atenção, é óbvio que a melhora destes através da restrição ou eliminação do glúten da dieta traria melhor qualidade de vida.

Além disso, temos uma forte influência da indústria da dieta e suplementos nas famílias – principalmente nas propagandas de “vitaminas”, “alimentos enriquecidos”, e nos estereótipos de crianças saudáveis.

Mas justamente aí está a diferença: os autistas não são todos iguais e por isto se fala tanto em Transtorno do Espectro Autista, pois mesmo entre aqueles com este diagnóstico há diferenças gritantes – e isto se aplica também à (doenças) associadas, e por consequência eles podem ter respostas muito diferentes à eventuais dietas. Tendo visto que nem todo autista apresenta doença celíaca, por exemplo, por que eliminar o glúten nestes casos? Partindo desta observação, deve ser fácil concluir que o que é bom para alguns pode ser ruim ou indiferente para outros.

Então qual orientação seguir?

Buscar pela melhor alimentação e nutrição possível, considerando-se todas as dificuldades alimentares e principalmente, procurar identificar se há distúrbios gastrointestinais associados; estes sim, podem indicar a necessidade de cuidados especiais baseados em diagnósticos, sejam eles de patologias ou de distúrbios funcionais. Neste processo é necessária a ajuda de um médico generalista (geral) como o Pediatra, dos especialistas que conhecem o paciente como o Neurologista ou Psiquiatra, ou ainda, com a avaliação por um Gastroenterologista, seguido posteriormente do acompanhamento nutricional; sempre lembrando que generalização de todos fazerem dieta não apresenta lógica ou evidência científica.

Dr. Fábio Agertt é Neuropediatra na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neuropediatria.

Dr. Fábio Agertt

Especialista em Neuropediatria na Neurológica em Joinville - SC

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