Cefaleia: o canabidiol é um tratamento adequado?

O cannabis contém uma variedade de compostos químicos, os mais conhecidos sendo o canabidiol e o THC. O canabidiol não possui efeitos psicoativos, mas tem ação analgésica, anti-inflamatória e anti-emética, e atualmente é indicado no tratamento de algumas patologias neurológicas.

Seu uso foi liberado há pouco tempo no Brasil e antes costumava ser disponibilizado através de extrato concentrado da planta, que não possui uma regulamentação ou fiscalização na sua produção, mas agora também dispomos de importação de fórmulas de produção farmacêutica, que são regularizadas e tem concentração definida como qualquer outra medicação.

Embora pequenos trabalhos indiquem que possa haver benefício do uso de componentes da cannabis em crises de enxaqueca, ainda não temos noção de quais seriam de quais seriam as doses efetivas e os efeitos a longo prazo no cérebro de enxaquecosos.

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Com a legalização do uso de cannabis em alguns estados dos Estados Unidos e maior facilidade ao acesso, mais pessoas têm usado cannabis para tentar aliviar suas enxaquecas, apesar de não termos evidências sólidas de que isso seria efetivo no tratamento agudo ou profilático.

O que dizem os estudos

Um estudo recente realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, mostrou uma forte associação entre cefaleia por abuso de analgésico em pacientes enxaquecosos e o uso de cannabis. Não está claro se os pacientes estão usando cannabis para tratar cefaleia por abuso de analgésicos, ou se a canabis está contribuindo para este tipo de dor, ou ambas as possibilidades.

Os resultados mostraram que usuários de cannabis tinham um risco quase 6 vezes maior de ter cefaleias por abuso de analgésico do que não usuários. Pessoas com cefaleia por abuso de analgésicos costumam desenvolver patologias como, ansiedade, depressão e distúrbios do sono.

Esses sintomas, podem levar os pacientes a recorrer à cannabis. Estas pessoas também consomem mais analgésicos opioides, que são fortes contribuintes e agravantes neste tipo de dor de cabeça.

Como este é um tipo de dor que costuma ter um tratamento difícil, que envolve muita conversa com o médico assistente e compreensão do paciente sobre suas causas e modo de abordagem, seria interessante se profissionais médicos se sensibilizassem a respeito da sua prevalência e acolhessem mais os pacientes, com a integração de uma equipe multidisciplinar para um tratamento mais efetivo.

Pelo fato de ser um estudo observacional, não está claro que estes pacientes foram adequadamente tratados com medicação profilática. Pessoas que usam cannabis muitas vezes o fazem por preferir evitar tratamentos medicamentosos como antidepressivos e anticonvulsivantes, frequentemente empregados na profilaxia da enxaqueca.

Deve-se aguardar os próximos estudos sobre o tema

Já é comprovado que a experiência de ter enxaqueca crônica leva a um impacto negativo significativo nos relacionamentos e vida profissional, o que também induz a stress psicológico. Quem trabalha com dor crônica sabe que a dor e humor não são dissociáveis.

Existe uma preocupação sobre a cannabis ser uma substância formadora de hábito, suas interações medicamentosas com outras drogas usadas no tratamento da enxaqueca e o risco de uma condição rara chamada vasoconstrição cerebral reversível.

Embora o fato de existir muito pouca evidência de que componentes da cannabis sejam efetivos no tratamento da enxaqueca ou de outras cefaleias possa parecer desanimador para quem tem interesse no assunto, ainda não podemos dizer que não funcionam.

Aguardamos melhores assuntos sobre o tema.

Dra. Lara Pizzetti Fernandes é Neurologista na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neurologia.

Dra. Lara Pizzetti Fernandes

Especialista em Toxina Botulínica na Neurológica em Joinville - SC

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