Dra. Vera Braatz, Neurologista da Neurológica, esteve presente no 72º Congresso da Sociedade Americana de Epilepsia (AES2018), em New Orleans, Louisiana, Estados Unidos, onde se reuniram mais de 6 mil especialistas em epilepsia de 65 países para discussões clínicas e aprendizado. Neste post são elencados os principais pontos abordados no tratamento e acompanhamento de pacientes portadores de epilepsia. Confira a seguir.
As opções para o tratamento de epilepsia são limitadas em todo o mundo, porém novas medicações estão chegando ao mercado. Estas novas drogas têm mecanismos de ação diversificados e atuam melhor em tipos específicos de epilepsia.
No simpósio geral do AES2018 foram comentados os resultados de estudo controlado e bem-conduzido sobre medicamento à base de canabidiol, um composto químico extraído de plantas, com ação em circuitaria endocanabinóide, aprovada para uso no tratamento de Síndrome de Lennox-Gastaut e Síndrome de Dravet (epilepsias graves da infância) para pacientes acima de 2 anos de idade. Os resultados vistos até então são interessantes e promissores, apresentando até 30% de melhora no controle das crises, com relativamente boa tolerabilidade.
Não há uma previsão exata para a chegada desta medicação no Brasil, mas em breve deverá haver a possibilidade para importação. O ponto forte dos estudos com a nova medicação é que eles são altamente controlados, então são mais seguros do ponto de vista de resultado obtido.
Também há outros medicamentos em fase final de estudos para o tratamento de epilepsia, com previsão de liberação nos EUA em 2019 (e possivelmente com breve entrada no Brasil). Entre eles podemos citar Stiripentol, Perampanel e Rufinamida.
As medicações de resgate destinam-se aos pacientes com crises frequentes e de difícil tratamento, principalmente quando elas são prolongadas ou reentrantes (repetitivas, ocorrendo em sequência) para que a própria família consiga aplicar. Foram discutidas formulações de absorção oral e intranasal, com resultados promissores. Ainda em estudos estão medicações de resgate de uso inalatório.
Para 2019, espera-se que algumas dessas medicações sejam aprovadas e comercializadas no Brasil.
O tratamento medicamentoso de epilepsia vem recebendo novas opções ao longo dos últimos anos. Fármacos mais modernos, com melhor perfil de tolerabilidade e segurança fazem agora parte das opções de tratamento. Atenção especial deve ser dada acerca da segurança de alguns remédios, particularmente mais antigos ou quando há necessidade de uso crônico.
Muito foi falado no congresso sobre efeitos de fármacos anti-epilépticos sobre a saúde mineral óssea (aumento de risco de osteoporose e fraturas), impacto sobre fatores de risco cardiovascular (por interferir negativamente com colesterol, triglicerídeos, glicemia), bem como interação com outras medicações em uso (como anticoncepcionais, anticoagulantes, quimioterápicos, antibióticos, etc).
No segundo dia do evento ocorreu uma das mesas-redondas mais esperadas, quando foi falada sobre a relação entre Acidente Vascular Cerebral (AVC) e epilepsia, principalmente pelo AVC ser uma das principais causas de morte e sequelas no mundo e pela história de AVC aumentar o risco de crise convulsiva e epilepsia.
Estas crises podem ocorrer nos primeiros dias após o AVC, bem como podem ocorrer ao longo da vida de pacientes que sofreram um AVC.
Também foi falado sobre o impacto das crises nos pacientes com AVC, com estudos comprovando que a recuperação destes pacientes tende a ser mais lenta e difícil. Atenção especial merece ser dada para aqueles pacientes em risco, com orientação de sintomas que sugiram crises convulsivas e orientação de procurar imediatamente atendimento médico para avaliar necessidade de iniciar um tratamento.
No terceiro dia do evento Dra. Vera Braatz apresentou parte dos dados de uma pesquisa realizada em Joinville, sobre pacientes com epilepsia pós-AVC, com crises graves e muito frequentes, onde houve necessidade de tratamento hospitalar. A medicação em estudo mostrou-se bastante segura e bem tolerada para este grupo específico de pacientes, com excelente taxa de resposta e controle de crises.
Em breve traremos novas postagens sobre outros temas abordados no congresso, como opções de tratamento cirúrgico, papel da investigação genética, sono e crises convulsivas, e projeções para o futuro.