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Estudo demonstra eficácia do Programa Saúde da Família para pacientes que sofreram AVC

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um dos maiores problemas de saúde pública mundial e primeira causa de óbito no Brasil. A evolução das taxas de incidência entre a década de 70 até os anos 2000 demonstra que a quantidade de novos casos em todo o mundo dobrou em países de baixa e média renda, e diminuiu 40% em países de alta renda. Estas diferenças são expressão da qualidade da prevenção seja pública ou privada.

No Brasil, onde 78% da população (150 milhões) usa o Sistema Único de Saúde, esta prevenção ocorre nos ambulatórios dos bairros. Ela é focada, principalmente, nas pessoas portadoras de hipertensão arterial, diabetes, tabagismo e colesterol elevado e visa prevenir dois desfechos duros: AVC e infarto do miocárdio.

Desde 1994, existem no Brasil dois modelos principais de assistência ambulatorial pública: as unidades do Programa da Saúde da Família (PSF) e os chamados “postinhos” ou UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

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Mas, diante do aumento gradativo das taxas de incidência do AVC, uma pergunta torna-se bastante pertinente: O PSF, visto como um programa ideal e sendo foco estratégico do Ministério da Saúde, realmente funciona? Quais as evidências de efetividade? Só para se ter uma ideia, uma equipe do PSF custa 30% mais que uma do modelo usual.

Em um estudo com seis anos de seguimento, publicado em outubro de 2012, no American Journal of Public Health, o Dr. Norberto Cabral (Médico da Clínica Neurológica) e colaboradores da Universidade da Região de Joinville acompanharam 241 pacientes que sobreviveram ao primeiro AVC ocorridos em 2005 e 2006, em hospitais públicos de Joinville e que voltaram para suas casas, continuando a prevenção secundária nos seus respectivos ambulatórios, comparando os dois tipos de tratamento preventivo (PSF vs não-PSF).

Conseguiram demonstrar que o modelo PSF é mais eficiente que o modelo convencional. Em seis anos, 38% (39/103) dos pacientes que estiveram sob assistência das 35 unidades PSF de Joinville faleceram. Entre os que tiveram assistência nas 21 unidades não-PSF, 54% (75/138) vieram a óbito. Foram consideradas variáveis como a influência da gravidade do primeiro AVC e grau de escolaridade.

O estudo concluiu que a prevenção secundária e regular em unidades PSF reduziu em 16% o risco absoluto de óbitos ou, visto de outra forma, a cada sete pacientes tratados no modelo PSF, um óbito foi evitado. Embora não significativa, a diminuição da morbidade pode ser menor também entre nos pacientes do grupo PSF, pois 30% (31/103) tiveram um segundo AVC ou um infarto do miocárdio contra 36% (50/138) no grupo não PSF.

Entenda melhor o Programa

No modelo do PSF, cada equipe atende por agendamento, entre 600 a 1000 famílias cadastradas, e é composta por clínico geral, um enfermeiro e quatro agentes de saúde que recebem salários competitivos com o mercado.

De um programa restrito a poucas regiões do país, em 1994, o modelo PSF está em franca expansão nacional. Atualmente, atende 100 milhões de pessoas e está presente em 90% das cidades brasileiras.

Já existiam evidências de eficácia do PSF na redução da mortalidade infantil, e os resultados de Joinville, que precisam ser replicados em outras cidades, mostram também a eficácia na mortalidade de pessoas adultas. Isto não é pouco, pois idade é um fator de risco mais potente que hipertensão arterial e o país envelhecerá muito nas próximas décadas.

Neurológica

Centro Médico de Neurologia e Neurocirurgia.

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