O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma doença do comportamento, mais diagnosticada na infância, porém bastante frequente na população em geral. Leia a entrevista com o Dr. Júlio Koneski, neuropediatra, e compreenda melhor esse transtorno.
Quais são os sintomas do TDAH?
Dr. Júlio: Existem, basicamente, três tipos de sintomas: o déficit de atenção, a impulsividade e a hiperatividade, que geralmente é confundida com agitação. Hiperatividade é sinônimo de inquietação, quando a pessoa fica se mexendo, se cutucando, se arrumando o tempo todo. As pessoas costumam relacionar a hiperatividade com aquela criança agitada, que corre, sobe e desce, pula o dia inteiro e, na maioria das vezes, isso é apenas inquietação comum da idade.
É preciso apresentar os três tipos de sintomas para ser diagnosticado com TDAH?
Dr. Júlio: Não é necessário que tenha todos os sintomas. Associações médicas mundiais definiram uma lista de critérios, na qual estão descritos 18 sintomas, sendo nove relacionados à desatenção e 9 relacionados à impulsividade e hiperatividade. Para que seja feito o diagnóstico, a pessoa precisa apresentar, pelo menos, seis sintomas de desatenção e/ou seis de hiperatividade e impulsividade. Além disso, os sintomas devem ser frequentes, a ponto de causarem prejuízos em suas rotinas. Essa questão da frequência é muito importante, afinal, quem não esquece alguma coisa ou não é desatento de vez em quando?
Acontece com mais frequência em qual fase da vida?
Dr. Júlio: Pode acontecer em todas as fases da vida, mas é mais diagnosticado na infância, antes dos 11 anos. Quando entra na escola, essa criança acaba tendo um rendimento escolar muito ruim por conta da desatenção, impulsividade e hiperatividade, fazendo com que parte dos pais busque auxílio profissional. Adolescentes e adultos já conseguem controlar melhor os sintomas, não ficam levantando o tempo todo ou interrompendo, pois já passaram por situações difíceis e aprenderam a controlar os impulsos. O que falta nas funções cerebrais das pessoas com TDAH é o que chamamos de controle inibitório, que é, justamente, não conseguir inibir algumas ações.
O que causa TDAH?
Dr. Júlio: Existem inúmeras pesquisas que mostram que o TDAH tem origem genética. Sempre vamos encontrar parentes da pessoa – pai, mãe, irmãos – que também têm o transtorno. Não é uma doença de caráter genético único, ou seja, não é só um gene transmissor. Então, a presença de vários genes combinamos vai causar o transtorno. Gosto de explicar isso porque se fala muito que é um problema da sociedade moderna, que é falta de limite, excesso de videogame ou de televisão e não tem nada disso.
Qual a diferença no cérebro de uma pessoa com e sem TDAH?
Dr. Júlio: Nosso cérebro é formado de conexões. Os neurônios, através de substâncias, vão passando informação um para o outro. O que existe no cérebro destes pacientes é uma dificuldade de absorver essa substância que vêm de um neurônio para outro. Existe uma espécie de fenda que deveria captar esses neurotransmissores, porém nesses cérebros essa fenda fecha muito rápido, fazendo com que esses neurotransmissores fiquem circulando ao invés de estarem no lugar. Estruturalmente o cérebro é igual, por isso não é possível fazer diagnóstico através de exames de imagem.
Qual a incidência de TDAH?
Dr. Júlio: Pesquisas mundiais mostram que em torno de 4,5 a 5% da população, de 7 a 14 anos, tem esse transtorno. É um número muito elevado. Se pensarmos, por exemplo, que, em média, uma sala de aula tem 30 alunos, podemos considerar que de 1 até 2 crianças tem TDAH.
Quais são os tipos de TDAH?
Dr. Júlio: A gente classifica em três subtipos por conta dos três sintomas básicos. Classificamos em TDAH com desatenção, TDAH com predomínio de impulsividade e hiperatividade e TDAH combinado, no qual você tem a mistura dos anteriores, que é o mais comum. Vale lembrar que o transtorno é quatro vezes mais comum em meninos e, no caso das meninas, é mais comum que tenham TDAH com desatenção.
Quais são os riscos que o TDAH oferece?
Dr. Júlio: As crianças que tem TDAH e que não são tratadas tem mais desajustes comportamentais e sociais, se envolvem mais em brigas, confusões. O adulto e o adolescente com TDAH se envolve mais facilmente com drogas. Além disso, existe uma incidência muito maior de divórcio, de perdas de emprego, pois a pessoa acabada cometendo mais erros por ser desatenta.
Há prevenção ou cura?
Dr. Júlio: Não tem prevenção e nem cura. Hoje, estudos mostram que dois fatores ambientais podem influenciar na presença do TDAH: o fumo na gestação e a prematuridade. É muito importante que, famílias que já tem alguém com TDAH, fiquem atentas aos sintomas. Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, mais cedo começaremos a trabalhar essa criança de uma maneira diferenciada, entendendo que ela tem necessidades educacionais especiais, que precisa de suporte psicológico. Isso melhora muito o prognóstico a médio e longo prazo.
Qual sua recomendação para uma pessoa com TDAH?
Dr. Júlio: O importante é conseguir fazer um bom diagnóstico. Se você tem dúvida se você ou seu filho tem TDAH o primeiro passo é procurar um profissional. Pode ser um pediatra, um neuropediatra ou um psicólogo. Uma conversar com os professores também pode ajudar, pois atualmente eles estão bem capacitados para perceber as dificuldades das crianças. Procure um especialista para fazer o tratamento corretamente.