O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento. O TDAH se inicia na infância e pode acarretar prejuízos ao longo da vida da criança, desde o período escolar, passando pela adolescência e até mesmo na vida adulta.
O transtorno comportamental está presente em 4,5% da população até os 14 anos de idade, e cerca de 60% dessas crianças permanecem com os sintomas na vida adulta.
Sintomas comuns para o TDAH
Algumas pessoas, sejam elas crianças ou adultos, apresentam principalmente sintomas de desatenção, como:
- Não prestar atenção a detalhes;
- Cometer erros por distração;
- Ser esquecido nas atividades da vida diária;
- Perder objetos essenciais ao dia a dia; e
- Apresentar dificuldade para organizar e planejar tarefas cotidianas.
Outras apresentam predominantemente características de impulsividade e inquietação:
- Falar em excesso ou responder sem ouvir a pergunta ser concluída;
- Dificuldade em esperar sua vez;
- Mexer com as mãos, sair do lugar, não parar quieto; e
- Dificuldade em brincar de uma maneira tranquila e calma.
Ao longo da vida observa-se que pessoas com TDAH tem maior índice de reprovação e evasão escolar, dificuldades em manter-se nos empregos, maior frequência de gravidez na adolescência e casamentos desfeitos. Com frequência, também estão mais propensos a sofrer acidentes domésticos ou de trânsito, uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas.
Como é realizado o diagnóstico do TDAH
O diagnóstico se baseia nos critérios definidos internacionalmente pelo Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria, e se caracteriza basicamente pela presença de três sintomas básicos: desatenção, inquietação e impulsividade.
Para que possamos fazer o diagnóstico de TDAH, as características comportamentais devem estar presentes antes dos 12 anos de idade e manifestar-se em vários ambientes, como casa, escola ou trabalho. Também é preciso que ocorram de uma maneira frequente e excessiva a ponto de causar prejuízo na vida da pessoa.
ESCALA SNAP-IV para TDAH
O questionário SNAP-IV é uma escala de utilização internacional, validada para uso no Brasil, e que lista sintomas e características comportamentais do TDAH. Serve para uma avaliação inicial, dando boas pistas da presença do transtorno.
Este deverá ser preenchido individualmente, por pais, cuidadores ou professores das crianças e adolescentes com suspeitas de TDAH. É importante salientar que o diagnóstico deverá ser feito por um médico, onde será baseado em anamnese apropriada.
Marque um X na coluna que melhor descreve o comportamento da criança ou adolescente:
Nem um pouco | Só um pouco | Bastante | Demais | |
1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas | ||||
2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer | ||||
3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele | ||||
4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações | ||||
5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades | ||||
6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado | ||||
7. Perde coisas necessárias para atividades (brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros) | ||||
8. Distrai-se com estímulos externos | ||||
9. É esquecido em atividades do dia-a-dia | ||||
10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira | ||||
11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado | ||||
12. Corre de um lado para o outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado | ||||
13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma | ||||
14. Não para ou frequentemente está a “mil por hora” | ||||
15. Fala em excesso | ||||
16. Responde perguntas de forma precipitada antes que elas tenham sido terminadas | ||||
17. Tem dificuldade em esperar sua vez | ||||
18. Interrompe os outros ou se intromete (nas conversas, jogos, etc.) |
Como avaliar:
1) Se existem pelo menos 6 itens marcados como “bastante”, ou “demais” de 1 a 9 = existem mais sintomas de desatenção que o esperado para uma criança ou adolescente.
2) Se existem pelo menos 6 itens marcados como “bastante” ou “demais” de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado para uma criança ou adolescente.
Causas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
O TDAH é quatro vezes mais frequente em meninos, e existem inúmeros estudos que comprovam a hereditariedade deste transtorno. Sabe-se também que o TDAH não é resultado de questões sociais ou culturais, mas, sim, trata-se de um transtorno neurobiológico com claras evidências etiológicas.
Diversos estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e nas suas conexões com o resto do cérebro. Entre outras funções, a região frontal do cérebro é responsável pela inibição do comportamento, pela atenção, por algumas funções da memória e pela capacidade do ser humano em organizar e planejar suas atividades.
Sabe-se que os neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que são responsáveis em transmitir informações entre a rede neuronal cerebral, funcionam de maneira inadequada nas pessoas com TDAH.
Como é realizado o tratamento para TDAH
O tratamento do TDAH visa reduzir os sintomas e os prejuízos para melhorar a qualidade de vida. Não há cura, mas um tratamento adequado permite uma vida saudável e produtiva.
O uso de medicações, associado às terapias, orientação aos pais e uma parceria entre a família e a escola, serão fundamentais para o sucesso terapêutico. A medicação é fundamental no tratamento quando houver prejuízo funcional.
Os medicamentos disponíveis e utilizados no Brasil são psicoestimulantes, ou seja, medicamentos que visam melhorar atenção e concentração, diminuir a impulsividade e inquietação. Existem várias apresentações comerciais (metilfenidato de curta ou longa ação e lisdexanfetamina), que variam quanto à sua concentração e tempo de ação no organismo.
De um modo geral, estes estimulantes são bem tolerados por crianças e adultos (com mínimos e transitórios efeitos colaterais, quando presentes), e deverão ser utilizados por um período de tempo indeterminado.
Dr. Julio Koneski é Neuropediatra na Clínica Neurológica, em Joinville (SC). Clique e conheça os tratamentos realizados em Neuropediatria.