Calcula-se que 15% das mulheres e cerca de 8% dos homens sofrem de Enxaqueca. A Enxaqueca é um transtorno do Sistema Nervoso Central caracterizado pela ocorrência de crises de cefaleia (dor de cabeça), ocorrendo geralmente de um lado da cabeça, pulsátil e acompanhada de mal estar com náuseas e/ou vômitos e uma piora da dor aos esforços físicos e exposição à luz e ao barulho.
A maioria das pessoas que sofrem de Enxaqueca, felizmente, apresentam crises ocasionais e tratam estas crises com o uso de analgésicos comuns (paracetamol, aspirina, dipirona, etc.) e com repouso, não necessitando de tratamento médico especial. Muitos, na verdade, nem tem consciência que sofrem de Enxaqueca.
Entretanto, uma considerável parcela dos pacientes, devido à mesma Enxaqueca, tem um caminho oposto. Apresentam crises frequentes e intensas que não melhoram com os analgésicos comuns. Acabam sofrendo consequências na rotina, com queda de produtividade no trabalho, na escola. Até mesmo as relações familiares são prejudicadas. “Muitas vezes são mal interpretados pelas pessoas que convivem, como se a dor fosse de caráter ‘psicológico’”, explica a Dra. Carla H. Cabral Moro.
Os neurologistas, para fins de pesquisa, classificam os pacientes que apresentam mais de 15 dias por mês com dor de cabeça como portadores de Enxaqueca ou migrânea crônica. Cerca de 2 a 3 % da população geral possui esta condição. Assim, podemos imaginar que em Joinville cerca de 10 a 15 mil pessoas apresentem Enxaqueca grave todos os dias. “Isto é realmente assustador e, apesar de ser tão comum esta condição, o mais frustrante é que existem poucos recursos terapêuticos bem estudados para lidar com a mesma”.
Existem, atualmente, dois medicamentos que são utilizados para o tratamento profilático das crises, isto é, tomados todos os dias para evitar ou diminuir o número de crises: o Topiramato e o Valproato. Além deles, mais recentemente a Toxina Botulínica A (popularmente conhecida como Botox®) foi aprovada para esta finalidade terapêutica.
Segundo o Dr. Alexandre Luiz Longo, a relação da aplicação da Toxina Botulínica A no combate a Enxaqueca passou a ser observada na década de 1990, quando ela começou a ser utilizada para fins estéticos. Os pacientes relatavam a redução do número de crises de Enxaqueca como efeito colateral. Porém, somente em 2010, é que ficou demonstrado cientificamente o seu benefício na migrânea crônica.
Vantagem: A Toxina Botulínica possui menos efeitos colaterais indesejáveis (sonolência, ganho de peso) do que os observados com medicamentos via oral.
Aplicação: O tratamento consiste na injeção de 31 a 39 pontos, nas regiões frontal (testa), occipital (posterior da cabeça), temporal e posterior do pescoço. As aplicações são realizadas a cada 12 a 16 semanas, geralmente 5 ou 6 vezes, conforme a resposta ao tratamento. A dor no momento da aplicação normalmente é bem tolerada pelos pacientes.
Resultados na Clínica Neurológica
A Clínica Neurológica já faz este tratamento com Toxina Botulínica desde 2011, sendo que muitos pacientes já foram tratados. Os resultados são os seguintes:
- Cerca de 80% apresentam melhora com redução da intensidade e frequência das crises.
- Destes, cerca de 40% apresentam melhora muito significativa, isto é, o tratamento com a Toxina Botulínica A melhorou a qualidade de vida destes pacientes.
- Alguns pacientes que já não conseguiam mais trabalhar ou ter vida social, após o tratamento conseguiram retornar a um nível normal de vida.
“Porém, é importante salientar que não esperamos a cura da Enxaqueca com o tratamento, isto é, que o paciente não tenha mais crises de Enxaqueca, o objetivo é que ele venha a ter crises em frequência “normal”, que não interfiram de forma significativa na sua vida diária”, alerta o Dr. Alexandre.