Artigo escrito pelo Dr. Rilton Morais, Médico Neurocirurgião, Preceptor da Residência Médica em Neurocirurgia e Diretor Técnico do Hospital de Cirurgia (Aracaju – SE)
Dia 14 de Abril é o Dia Nacional do Neurocirurgião.
Ninguém sabia. Ninguém lembrou. Ninguém ligou. Somos os médicos que ninguém quer precisar. Somos os médicos que muitas vezes trazem notícias ruins. Somos os médicos que estão ao lado dos pacientes em momentos que eles querem esquecer. Nem sempre, felizmente, mas com uma grande frequência.
O neurocirurgião é o especialista que trata das doenças cirúrgicas do cérebro, da medula espinhal, dos nervos e das estruturas que envolvem estes órgãos: o crânio, a coluna vertebral e os túneis nervosos.
Lidamos com os órgãos mais importantes do corpo humano, tratamos o centro da vida. Enfrentamos doenças que levam rapidamente à morte ou que deixam sequelas graves e sofridas. Tratamos de tumores, anomalias vasculares, malformações congênitas, doenças degenerativas, e muito mais.
Estudamos muito e por um longo tempo. Após 6 anos de faculdade, estudamos ainda mais 5 anos de especialização para começarmos a trabalhar na neurocirurgia e continuarmos estudando pelo resto das nossas vidas.
Trabalhamos de pé por longas horas, muitas vezes com os olhos fixos num microscópio, muitas vezes usando pesadas capas de chumbo. Lidamos com uma ciência difícil, com decisões arriscadas, com cirurgias delicadas, que não conseguimos explicar adequadamente aos nossos pacientes.
Vivemos a trabalhar em grandes equipes, somos dependentes de vários outros profissionais, precisamos da ajuda de todos para tentarmos afastar a morte e abrandar a dor. Somos uma peça imprescindível de uma máquina complexa.
Não há muito o que festejar. Ser neurocirurgião no Brasil é muito difícil, ingrato e injusto. Os hospitais públicos colocam-nos a trabalhar em condições cruéis para com os pacientes e desumanas para conosco. Os planos de saúde querem que arrisquemos a vida dos nossos pacientes em condições inadequadas mas que sejam mais lucrativas para eles. Nem um, nem o outro nos remunera justamente.
Hoje, para muitos de nós, tem sido melhor fazer apenas consultas do que operar. Os honorários médicos não valem o risco, o esforço ou o sacrifício. Muitos neurocirurgiões têm desistido da sua especialidade. Muitos residentes têm abandonado suas especializações. Vivemos um momento crítico.
Mas, apesar de tudo, muitos de nós têm continuado na profissão que escolheram, no trabalho que amam, nas ações que se orgulham de fazer. Só nós sabemos o quão difícil é fazer o que fazemos. Só nós conhecemos o quão sacrificado é o saber que adquirimos.
Só nós sentimos o prazer de salvar vidas que estavam ameaçadas por doenças tão terríveis. Só nós conhecemos a dor de perder pacientes mesmo após tanto esforço.
Para todos os neurocirurgiões, meus parabéns. Estou orgulhoso de ser um de vocês. Ninguém pode nos tirar o prazer de fazermos o que fazemos. Que nosso futuro seja melhor.